casa 14bis / 2008 / Botucatu, SP

Pôla Pazzanese

Uma casa nipo-caipira

Essa casa começa a concluir um longo processo de inflexão “reflexivo-discursiva” sobre os significados profundos da arquitetura e sua prática, aquele iniciado em 1996 com a casinha no Sertão do Una.

Situada numa vila ecológica da qual participamos eu e Sílvia de seu estabelecimento – projeto de recuperação de Cerrado, num bairro rurbano (locais que unem/conectam qualidades urbanas e rurais) próximo a Botucatu, a Demetria – solicitava uma abordagem francamente socioambiental, combinando sistemas construtivos modernos com saberes tradicionais, como a pré-fabricação da estrutura de eucalipto tratado e materiais industrializados como os painéis de embalagens recicladas, c/ moldagens de concreto ciclópico e peças de aço de fornecedores industriais, produção do bairro (com boas oficinas de artífices) e da cidade (Botucatu foi a principal oficina da antiga Sorocabana, donde herdou ótima capacitação técnica).

Tudo isso combinando as capacidades de fornecedores para a indústria local, para empreendimentos agrícolas, carpintaria e marcenaria de alto nível, novos e antigos materiais e mão de obra aberta para todos esses saberes construtivos.

O terreno tem uma declividade de 12% (aprox. 7º), o que indicou uma implantação em 3 níveis intercalados, com a base da casa em menor dimensão que o restante, permitindo um terrapleno que durou só 1 dia de trator.

O piso intermediário, central na planta, é a cozinha+refeições onde se recebe todo mundo na casa e se ligam todos os ambientes, criando uma ambientação que conecta e amplia os pequenos espaços à sua volta, desenhados assim como suportes para liberar nossos tempos na verdadeira curtição lá: o com-viver.

No paisagismo, adotamos referências de jardins japoneses ao percebermos que a possibilidade de “editarmos” a vegetação do Cerrado, mais que enfrentá-la substituindo-a – o que, além de mais custoso, seria literalmente uma “batalha perdida” – permitiria criar também um elemento, o laguinho, tão contemplativo quanto ambientalmente adequado, por conter mais tempo a água de chuva, colaborando na hidratação e recuperação mais rápida do micro-ecossistema do entorno. Esse jardim, que começou como um ex-pasto em 2006, está hoje quase inteiramente recuperado para o Cerrado, assim como por toda a vila-condomínio.

 

– ouvindo milton nascimento, ‘clube da esquina’.