Escola da Cidade - AECAU-SP/SP
e então chegamos à escola da cidade, que ainda nem nome tinha, posto que só uma ideia.
havíamos reunido ao longo dessa trajetória uma turma profissional, constituída por uma aliança em torno da ação coletiva, já com boa experiência de ensino e valente quisó.
intimado pelo sérgio sandler, velho parceiro, voltei ao grupo logo nos seus começos.
ciro havia reunido uma turma inicial e fundara uma associação mantenedora do curso, por norma do mec (ministério da educação), que começava a se organizar para aprovação oficial, baseado no nosso projeto na brás cubas.
o que era uma verdadeira loucura, como viemos a ver, o tentar realizar essa coisa que só ele poderia imaginar possível então – seu mérito principal na empreita:
ser um líder nato e um visionário que mescla ideal e pragmatismo em doses quase insanas mas perfeitamente precisas.
e ao longo desse processo organizamos ainda melhor o desenho pedagógico:
aprimoramos as sequencias disciplinares e seus conteúdos, as integramos ainda mais em objetivos por conteúdo, por ano letivo e procedimentos didáticos comuns, definimos de vez o estúdio vertical como centro do curso, criamos os eixos temáticos que nos orientariam a abordagem a cada ano, entre diversas inovações no projeto original, com a colaboração fundamental, então, da sofia telles, que em reuniões ao longo de um ano nos recebeu e nos trouxe bases de conhecimento importantíssimas para tornar o projeto ainda mais eficaz em conteúdos e no pedagógico, como essa de um eixo temático a cada ano, que sempre achei genial, porque resolvia uma coisa fundamental – como reunir diferentes campos de conhecimento etc., num conjunto que pudesse se ordenar em objetivos didático-pedagógicos comuns, apesar de suas diferenças intrínsecas.
concebi a partir dessas bases os desenhos pedagógicos e estratégicos que veem aqui, para que pudessem ordenar essa massa incrível de potenciais e saberes reunidos, numa instituição que tivesse agilidade e pontaria precisas para fazer frente aos desafios de uma época de mudança de paradigmas – do econômico para o socioambiental, da especialização para a transdisciplinaridade, de um antropoceno para um ecoceno.
fechamos a proposta, conseguimos ainda maior adesão entre amigos e apoiadores, conseguimos ser aprovados – e também graças ao forte apoio material do itaú cultural, por meio do ricardo ribenboim e do bruno assami – e, finalmente, abrimos a escola, já então “escola da cidade”, nome que criei nas discussões sobre, pela simples precisão com o desenho pedagógico, e escolhido no lugar de “vilanova artigas”, a que queriam homenagear mas que seria uma contradição com ele mesmo, que sempre lutou pelo ensino público*.
e seguimos realizando-a, com mínimo recurso e máxima eficácia, criando os núcleos todos que complementariam a proposta, como os de pesquisa, de formação continuada e o de aplicação – este que ajudou a sustentar financeiramente a escola por um bom período, com suas consultorias a projetos sociais e públicos, liderado pelo paulo brazil, onde envolvemos no período cerca de 1/3 dos professores e 40% dos alunos da ec, e chegamos até a desenhar o “parque da adutora” (parque da integração zilda arns), para o governo do estado de sp, no bairro de sapopemba, com impacto positivo para cerca de 200 mil pessoas lá.
imaginem, que escola de arquitetura, apenas se iniciando, seria capaz de tal coisa…?
me lembro, ainda hoje, de cada reunião então, de cada parceiro presente e ausente ao longo disso tudo, de cada tropeço e levantada, metido no projeto 24/7, segui como coordenador pedagógico ajudando a construir cada etapa até conseguirmos a aprovação do 5º ano, pelo mec, passando então a só fazer aulas, certo de que havíamos conseguido criar uma instituição de ensino, pesquisa e aplicação sólida e definitiva.
e sempre seguindo do jeito que sempre fomos, com parte considerável da força e união do grupo construída tarde a tarde e noite a noite, em bares, almoços, jantares e festas, em trocas profundas, lindamente infindas e eficazes até o osso na construção da nossa auto-consciência crítica, e cítrica, sobre tudo que pretendíamos então e que enfim conseguimos juntos adiante.
que hoje, tantos anos depois, se realiza cada vez mais e melhor, com ótimas avaliações pelo mec, convênios internacionais etc., lançando um livro comemorativo lindo, que conta e lembra muito do que foi essa quase fantástica aventura intelectual.
conseguimos enfim.
desde lá no iab-sp e na fundação artiigas dos 1980’s, sempre juntos sonhando e fazendo.
que honra infinita ter participado disso.
* o nome foi dado por mim numa das reuniões ainda no 2º prédio, o da rua apinagés, com o grupo que havia assumido a gestão para a aprovação no mec:
rosa artigas, heléne afanasieff, anália amorim, ciro pirondi, álvaro puntoni, julio artigas, newton massafumi, ricardo caruana, rafic farah, sérgio sandler e eu, donde então decidimos manter a homenagem ao artigas no nome da biblioteca da escola.
a ideia de homenagem ao artigas, no nome da escola, vinha do próprio ciro até então e, conhecendo como ele é gregário e afetuoso, e ainda mais passados tantos anos, se entende tranquilamente o equívoco ocorrido no livro dos 20 anos da escola, a respeito disso.




