casa francbay / 1997 / SP, SP
Pôla Pazzanese
Um canto na cidade
Assim como na casa anterior, surgiu outra oportunidade especial para adquirir um pequeno terreno no bairro da Pompéia, por um valor inusitado: o custo de troca de 2 carrocerias de caminhão para transporte de caçambas de entulho, segundo o proprietário que o vendia.
E com uma verba para obra muito pequena, era preciso ser inventivo para desenhar o como fazer, ocorresse o que ocorresse durante essa invenção.
O lote já havia sido ocupado, restando construído apenas os muros de divisa, dos quais tirei partido usando-os como parte dos fechamentos da casa.
Com 11,50m x 12,00m, a casa teve que ser desenhada como uma edícula, encostada no fundo e com recuo lateral, o que levou à criação de um pequeno pátio interno, coberto por clarabóia móvel, para clarear a maior parte do “lá dentro”.
Este partido se concluiu num arranjo similar à planta da casa no Una, com os ambientes dispostos em torno desse centro, abertos ao máximo a ele, criando uma continuidade espacial e visual que interligava suas pequenas dimensões, aumentando-as todas pela mistura das partes que pudessem “se encostar”.
Lá também instalei meu escritório – acessado da rua sem que se entrasse na casa – e aberto ao pátio e sua luz natural, dele isolado por painéis corrediços de vidro.
Segui experimentando empregar materiais de origem natural, alguns industrializados e passíveis de pré-fabricação em canteiro com montagem a seco, p.ex., usando placas de compensado naval plastificado diretamente como piso, nas portas e no mobiliário fixo.
Isso, associado à divisórias e cobertura leves, permitiu uma fundação direta, por meio de radiers, e uma estrutura de madeira com muito menor volume do que o usual para tal metragem de espaços e vãos.
Indagado então por pessoas amigas sobre o porquê de uma habitação uni-familiar numa cidade carente de espaços como SP, observava que qualquer ambiente sem diversidade de ocupação, usos etc., se tornava, mais que socioculturalmente monótono, menos dinâmico ou fluido tanto como experiência humana quanto como parte de um processo ecossistêmico mais amplo. Além disso, tais dimensões de “lote-casa” combinadas a outros modos de edificação ainda permitiria muito bom aproveitamento da infraestrutura e ecologia urbanas, principais elementos de sustentação física de uma cidade, sem congestioná-los como vem ocorrendo nesses anos 2000’s.
– ouvindo santana, ‘let the children play’.