Pola Arquitetos

pôla arqs. - celso 'pôla' pazzanese

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casa yellownaveva / 2019 / Botucatu, SP

Pôla Pazzanese

E la nave va

Essa casa como que fecha o longo, e duríssimo, processo de reflexão-inflexão-crítica, iniciado em 1996 com a casa no sertão do una e depois na francbay, fechando uma “gira”, como a gente dizia na Franco da Rocha , comunidade que morei nos 80s e mora em mim desde sempre.

Nela resumi o que venho aprendendo desde então, entre mestres de obra e de arquitetura finíssimos, engenheiros e artífices brilhantes. artistas, metalurgistas, rendeiras, e quem mais houvesse nesse país tão sabido e, no entanto, tão ignorado.

E apreendendo com Sílvia – sobretudo ela – porque desde que a conheci, com seu peculiar jeito de projetar, coordenar e obter resultados em comunidades de artesãs/os, pelo Brasil todo, em todas as técnicas, me vi reencontrado com 2 coisas de categoria “básico-fundamental-elementar”: Pensar por outros caminhos oxigena a existência e lhe traz enorme eficácia, e se não se pensa por novos caminhos, nos sobram muito menos saídas frente aos problemas da vida.

Assim, com ela encontrei, finalmente, uma delicadeza do fazer, e na arquitetura, que as enormes lutas na qual fui formado, aquelas dos 1960s/70s/80s, me haviam encoberto sob os agudos, ácidos, problemas e soluções que enfrentaram, enfrentamos então.

Nesse projeto inquiri algumas das formas de encarar essas questões todas, pondo para coloquiar em certa paz esses saberes com a sistematização construtiva modernista, das fundações de radier às tesouras de bambú com tirantes de ferro, conversando com a ainda incipiente tecnologia dele, bambú, no Brasil, p.ex., e numa planta que remete às casas coloniais – por preservação de memórias quasi-esquecidas, repassadas para a vida atual, conectada e home-office.

E ainda com francas referências trans-culturais, como um Fellini abrasileirado na parede que divide salas e cozinha e que dá nome à casa, ou como os Beatles, na forma estruturante da cisterna de águas pluviais, essas que se tornarão cada vez mais necessárias daqui pra frente, nesse mundo que se autodestrói quase-alegremente.

Nela se resume o que venho sabendo até o momento, e o que entendo como o que se precisa atentar nesse século que começa imenso em desafios, portando tantos saberes tão conectados quanto pouco inteligentes (“inteligência” vem de inter leggere, do latim para interligar)…

– ouvindo john coltrane, ‘my favorite things’.